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Por Dom Eduardo Koaik, Bispo Emérito de Piracicaba Cresceu e expandiu-se por 13 municípios dos 15 que compreende a Diocese. Quem a faz crescer é o amor pela criança inspirado nas palavras de Jesus Cristo (Lc 9,48): “Quem acolhe uma criança, a mim acolhe”. Foi dessas palavras de vida que se originou a Pastoral da Criança no Brasil, em 1.984. Palavras orientadoras da sua evangélica missão. A criança, somente recebendo acolhimento, será a esperança do futuro. O acolhimento expressa-se no amor. Atrás de cada criança está o amor que a tornou possível e a sustenta na vida. O testemunho da Pastoral da Criança tem sido mostrar que o amor às crianças nunca pode ser abstrato e apenas sentimental. É necessariamente concreto, comprometido e prático. Não se ama a criança só com palavras e cantigas de ninar, mas atendendo integralmente suas necessidades. A criança entende mais a linguagem do coração: menos palavras e mais gestos de acolhimento. Quem soube ensinar esse amor pela criança foi a Dra. Zilda Arns, fundadora da Pastoral da Criança. Médica pediatra e sanitarista com experiência em saúde pública ao ser incentivada a assumir esse novo trabalho pelo seu irmão, o Cardeal Paulo Evaristo Arns, então Arcebispo de São Paulo. Ela reconheceu que “estava sendo chamada por Deus para uma grande missão”. Como é próprio de uma pessoa carismática, teve de imediato a intuição de como deveria ser esse seu trabalho com as crianças, dizendo que “não bastava ensinar as mães a usarem o soro oral. Seria preciso, também, ensiná-las sobre a importância do pré-natal, aleitamento materno, vacinação, desenvolvimento integral das crianças, relações humanas, afim de que elas soubessem e fossem estimuladas a cuidar melhor de seus filhos” para que “crescessem em sabedoria e graça”. Como ocorreu ao Menino Jesus, em Nazaré, junto a Maria e José seus pais (Lc 2,40). As estatísticas não expressam sentimentos, mas falam com objetividade. Estes, os números, hoje, da Pastoral da Criança na Diocese: 8.025 crianças de zero a seis anos, cadastradas nas respectivas Paróquias e acompanhadas por 1.100 líderes comunitárias, voluntárias. Essas crianças recebem, mensalmente, assistência individual com ações básicas de saúde, nutrição, educação e medicina preventiva. São, ainda, atendidas 300 gestantes e 6.300 famílias. Esse serviço pastoral abrange 48 Paróquias, 02 Quase Paróquias e 173 comunidades localizadas em bairros. A Pastoral da Criança em nossa Diocese celebra, este ano, seus 5 lustros, seu jubileu de prata. Servir a criança é enfrentar qualquer realidade a ser superada, sim, mas com as regras do amor e os olhos no futuro procurando vencer as dificuldades do presente. Sabe-se que o desenvolvimento de uma criança e toda sua estrutura emocional se consolidam até os três anos de vida. Nesse período, o relacionamento da mãe com a criança é absolutamente necessário por exigência de um atendimento individual. Nas creches onde as crianças convivem coletivamente, se cada criança não receber atenção personalizada – dizem os entendidos – acabam sendo afetadas no seu lado emocional. O que a mãe pode dar à criança ninguém pode dar como ela própria: amor e qualidade exclusiva de aleitamento materno. Não queremos negar que a creche é uma necessidade e um direito diante das condições de vida das crianças brasileiras. Minha intenção aqui é fazer ver o que a Pastoral da Criança significa, pedagogicamente, no desenvolvimento integral da criança de zero a seis anos. Acolhe crianças pobres nos bairros onde vivem sempre acompanhadas por suas mães sem tirá-las de sua companhia. Ajuda as mães a dar às suas crianças condições mínimas de bem estar que o amor materno deseja dar sem poder dar porque não dispõe delas para dar. A nossa Lei-Maior aclamada, no dia de sua promulgação de Constituição-cidadã, em nenhum de seus artigos, garante os direitos de cidadania, com maior visão do futuro da Pátria que o artigo 227: “É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade, à vivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão”. Artigo perfeito na visão do futuro de uma criança. Não sei de outra prioridade na Constituição que mereça qualificar-se de prioridade absoluta. Os orçamentos anuais – federal, estadual e municipal – não são justos e, na minha opinião, apenas constroem o futuro sobre a areia movediça, caso desrespeitem essa “absoluta prioridade”, a que está acima de qualquer outra. Diante desse artigo de nossa Constituição sou levado a pensar de sua inspiração em Jesus Cristo: “Quem não recebe como uma criança o Reino de Deus, não entrará nele” (Lc 18,17). Jesus Cristo apresenta a criança como exemplo, imagem e espelho do Reino de Deus não tanto pela sua inocência, como pela sua significação social: um ser simples, fraco, não tem poder de ambições, está vazio de si mesmo. O Reino de Deus é onde se vive a justiça, a fraternidade, a paz. Quando quiseram impedir as crianças de se aproximarem dele, Jesus Cristo logo interpelou com certa indignação: “Deixai as crianças virem a mim” (Mc 10,14). Somente quem for capaz de atitude como esta, tem condição de acolhê-las. Em seguida, “Jesus abençoou-as pondo a mão sobre elas”. Não há criança que não tenha sobre ela a bênção de Deus. Apresentou-as, ainda, como espelho do Reino de Deus por sua candura, pequenez, fragilidade e beleza interior. As líderes comunitárias da Pastoral da Criança, no desempenho de sua missão cristã, testemunham o amor de Jesus Cristo pelas crianças, imitando o seu gesto acolhedor: “Deixai as crianças virem a mim”. |